Thursday, March 18, 2010

"Hoje não sei amar."


“Hoje não sei amar.”

Relato-me nas coisas que morro.
O dia seguinte foi sempre o mesmo. Eles passam sem saber porquê? Para onde? Felicidade o que é?
Já pedi tantas vezes que não me fizessem perceber; que não me mostrassem o acordar…
O verde reage, como se fosse primavera. A carruagem leva-me, como se fosse de dia. Viver nos outros… a melancolia.
Amei sempre sozinha.

Quero fugir, apagar o sorriso, aconchegar a memória… livrar-me do presente aos outros, enquanto é quente o recuerdo de mim. Para morrer fazendo parte. Mas sou cada vez menos…
A estrutura que me origina, rejeita a minha ironia. De raiz em raiz, todos os elementos que passavam por mim, já formam outra fôrma.
Vejo os momentos em que me elimina, revejo-os em hipocrisia.
Não há louco nesta morada que não a minha.

Cresci versátil, ao servir alheio. Cresci volátil, para viver outro recreio. Servi a estrutura em origem, alimentei o seu vôo, ajudei-os em sonhos… esqueci o meu plantar. Descurei sempre o meu desejar.
Agora que a boba em corte, faz somente de palhaço triste, a fotografia de família dispensa-me a cores. Sim, o natal é dos outros. É do sol, do poente, da praia… no natal perdi a fonte.
E se soubessem o que eu chorei?
Quase morri no fumo incoerente, na parca tentativa de auto-aquecimento. De resto, ninguém daria por isso. Por mim ali jazida, iludida, quase aquecida. Acho que foi por fim, por esse afinal… que nem morri.

Sonhei sempre voltar em primeira… na primavera. Mas nesta tenho sido difícil de assentar. Amo sempre o ano passado. Esgotado.
A estação Verão vai chegar, num dia comum… e eu morrerei de frio.
Plantei bolbos em chão de Inverno. Não vi cores nas flores. E será que as vi… as flores?
Amores não vivi.

Podiam passar duas semanas da minha morte, que seriam dois anos para el@s.
Na minha memória, cada hora são tantos minutos… chegam a ser mais que os segundos… vão e vêm entrelaçados.
Às vezes passam dois dias que vi fundir no mesmo. No mesmo que é sempre o mesmo, que leva horas a passar.
E foi para mais longe de mim… mais um fim-de-semana. Mais uma semana que termina, na caixa de correio vazia.

Se a morte me visse, era também mais infeliz.
Porque nada na minha estrutura, se lembraria de mim muito mais que uma estação. Seria um alivio, perder de vez a raiz que os ancora a um passado indesejável. Só eu fiquei para trás. Eu que fui feliz naquele.
Eu que quis não perder o amor… fui assim extorquida em continuidade, em ingenuidade; até cada ramo do todo, ser divisível em si mesmo, noutro jardim longe dali.
A mim deixaram-me secar aqui. Juro que não me dei conta.
O alarido crescente, no caos do chamamento alheio, fez-me perder a consciência. Rodei, bailei, amei, enquanto houve sino que me tocasse.
Mas não há mais nada a fazer. O toque era um empurrão, era fugir de puxão. Deste desejo tão maior, em unificar uma memória minha, rebentei as minhas extensões.
O balão pesado sobrou em bocadinhos distantes. A estrutura traiu a sua trela. Já não há ponta de mim, passada a quente, que pegue em sol nascente. Tudo em mim acusa: demente!
É inútil reavivar-me. É perdido defender-me. A estrutura a unificar, não reconhece na minha base o passado. Só eu fui feliz ali.
Ela recorda o pesar. A sua felicidade é presente; e é mais além. Mais longe… mais fora de mim.
Eu insisti e perdi.

Os anos novos, na fonte de criar mais laços, já foram no vazio. Foram entregues a eles… aos ramos de origem… à secura do retorno.
Enquanto floriam, eles aprendiam o nó seguinte. Prendiam o amor pedinte.
Não bebi nada disto.
Lutei sempre para manter a base, a antiga percepção do laço de ternura.
Em cada estação, era urgente sobreviver a uma nova ruptura. Adaptar a nova desilusão ao sonho de menina. Perdi-me completamente neste felizes para sempre.
Acordei sem mão, sem coração, nem canção de embalar. Acordei no dia de hoje.
Hoje não sei amar.




Lx,casa de ROMA-AMOR, 15 Março 2007