Tuesday, February 9, 2010

"Ondas de Sonhos Rosa"


... e porque nada na vida está seguro de não ruir... pego uma onde de vez em vez... a ver se evito morrer na praia... esta onda deu de si... tristemente agora "bóio"... até ao deslumbramento seguinte... per ti, principessa... todas as ondas de amor no mundo!
Fica bem.

"Ondas de Sonhos Rosa"
(aka "Ser Omega no Sistema")

Eu devia seguir daqui e não consigo. Estou rodeada de peso. Perdi os anos nos outros, os sonhos na vida dos outros... Não consegui amar no descanso, reter a paz, respirar a alma alheia. Amei, amei e nada. Segui a linha que me levava a ti... ao final feliz, porque achei que o desígnio existiria, como percursor da tua sina.

O coração foi-me oferecido numa caixa de jóias. O dia não tinha sido bonito até aquele momento, mas desde então, cresceu em mim uma certeza de amor futuro... não era das tuas mãos que vinha tal oferta, mas de uma sombra tua... e eu voltei a ver deus de dia.

Saí na manhã seguinte com uma nova transparência: o teu rosto a preto e branco, era o meu despertar para um silêncio e sono obscuro. A minha luz era o teu profundo, as minhas raizes criavam força nas tuas ilusões de criança. A minha existência ganhou nova forma de ser, porque era na tua sede que meu reflexo bebia as horas. Era na tua mente, que meu caminho engolia uma nova estrada... a flor colhia a chuva divina.

Caminhei na tua lida, cerquei a memória e pedi-te o amor em volta. Soltei esse amor aos ventos, gerei poemas absurdos que calquei em vasos de pedra... e os rios não se fizeram esperar: o ricochete veio desassossegar um mundo morto... e num raio de sorte, um barqueiro embrulhou-nos a morte. Nunca deveria ter feito tal serenata... a erva ruim brilhou e sufocou-te... minha rosa branca.

Acordámos à força! Ninguem queria sair dali, mas o pé estava sem chão de fundo... a terra levou-nos o todo. Duas viagens às origens denunciaram o plano de amor. A estrutura receou o abandono e ruiu primeiro. Estivemos três dias à deriva, entre corredores e vigas reerguidas... no labirinto dos outros.

Eu reagi, tu reagiste, o mundo cedeu... tu e eu fomos sugadas pela esfera crítica, de volta à nossa condição de espera: aquela que ama, ama e nada. Na trela do desconsolo, dedicamos a vida ao sistema: sustentamos a fé que os alimenta, na esperança de uma libertação própria... mas nós somos o paradigma da sua existência.

A vida passa por nós num colapso ciclico, sem ousar perder o limiar interior, para que sigam nesta barca de dor... as demais vidas normalizadas. O mundo dita-nos esta presença: a nossa solidão gera ondas de "sonhos rosa"... sair desta condição, levaria o ecossistema à loucura! Deus não permite comer a cenoura.

Eu lutei contra este punhal de ciúme... mas lutei sem ti. Ficaste embargada a norte. Ruiu-me o mundo por cima, em ti por baixo: eu destemi o corte e voei de coração aberto... a sul o vento soprou mais forte. Perdi-te na espuma do ódio. As asas não nadam... e quando voltei a respirar-te, já a tua conivência morria... por um mundo que finalmente suspira! Já girávamos de novo, em volta de uma hierarquia imposta:

"Em pólos opostos, o círculo é rehabitado à periferia... tu no fosso da lua... e eu na sombra da utopia."